Rolhas

A rolha funciona como uma barreira entre o vinho e o ar, com a função de vedar a garrafa para conservar o vinho.

A rolha natural é extraída da casca do sobreiro, a Quercus Súber e a sua principal característica é a capacidade de regenerar a casca. A árvore vive cerca de 200 anos, sempre renovando a cortiça. Mas a cortiça só pode ser retirada de nove em nove anos, e é preciso no mínimo 25 anos para que ela possa ser coletada.

De cada sobreiro, são extraídos em média 40 a 60 kg de cortiça. Ou seja, por ano, o mundo produz mais de 200 mil toneladas. Portugal representa cerca de 50% da produção anual de cortiça do mundo.

Além de tudo, somente a partir do terceiro descortiçamento do sobreiro (quando a casca se torna mais regular) é que a cortiça tem qualidade suficiente para ser transformada nas rolhas ditas naturais (as mais valorizadas). Ou seja, é preciso esperar 43 anos (25+9+9). E, se o sobreiro viver 200 anos (que é a sua média de vida), ele gerará um total de 20 vezes a “amadia”, como é chamada a cortiça apta para rolhas naturais.

O descortiçamento é feito no verão e da árvore são retiradas porções retangulares, chamadas de “pranchas” que são submetidas a tratamentos para evitar o TCA (Tricloroanisol), que é o composto químico responsável pelos aromas de mofo no vinho, e que afeta sensivelmente seu sabor e seus aromas, tornando-o não recomendável para ingestão. Isto é o que os franceses chamam de “bouchonné”, ou defeito da rolha.

As pranchas então são cortadas e, em seguida, perfuradas longitudinalmente com um cilindro para formar a rolha. Sobras e afins tendem a ser trituradas, processadas e coladas para formar rolhas aglomeradas e microgranuladas, ou então vão para outros setores (revestimento, vestuário, etc.).

Uma rolha natural de classificação baixa (são oito níveis) pode valer menos de 10 centavos de euro, e uma da mais alta qualidade, chamada “Flor”, chega a alcançar 2 euros. As mais caras, costumam ser usadas em vinhos premium, feitos para envelhecer.

A cortiça é um material 100% natural, reciclável e biodegradável, além do mais, trata-se de um processo ambientalmente sustentável, uma vez que nenhuma árvore é cortada.

Observando a indústria de rolhas, há algumas décadas, todas eram feitas de cortiça. Porém, no final dos anos 1980, o “monopólio” da rolha de cortiça começou a ser questionado por produtores insatisfeitos com a qualidade dos vedantes. Até então, a cortiça era a matéria prima líder absoluta na produção de rolhas.

Porém, rapidamente surgiram concorrentes, como as rolhas sintéticas e de rosca, que rapidamente conquistaram uma parte considerável do mercado, vendendo a ideia de que, com elas, os vinhos não mais corriam riscos de apresentar defeitos. E, assim, de uma hora para outra, a rolha de cortiça perdeu cerca de 30% (ou mais) do mercado.

Contudo, no início do novo milênio, a indústria de cortiça começou a reagir e investiu pesado na criação de sistemas de controle de qualidade para combater o TCA, reduzindo o índice de contaminação dos vinhos por TCA para menos de 0,5%.

Por mais que pareça contraditório, um vinho vedado com tampa de rosca ou mesmo rolha sintética pode estar “bouchonné”. Isto acontece por que o aroma de mofo vem do TCA e, como esse composto pode surgir em diferentes lugares, não é exclusividade dos vinhos com rolha natural.

No caso das rolhas feitas de cortiça, deve-se observar que elas devem estar sempre em contato com a bebida, para se manterem hidratadas e para impedir que haja entrada de ar na garrafa, logo, deve-se manter o vinho acondicionado na horizontal, evitando assim que a rolha resseque.

Tipos de rolhas

  • ROLHAS DE CORTIÇA:

Rolha maciça

Os maiores pedaços e sem defeitos, viram rolhas de cortiça pura e qualidade natural, extraído com uma broca do tamanho da rolha. A classificação das rolhas naturais é feita por critérios visuais e quanto mais e maiores forem as ranhuras e os poros (lenticelas) na superfície, menor a sua qualidade e, consequentemente, menor o seu nível. Quanto mais longa, larga e elástica ela for, melhor.

Rolha técnica ou rolha de aglomerado de cortiça

Apesar de esteticamente menos charmosas, são mais econômicas (podem custar menos de 10 centavos de euro). São elaboradas com o material desprezado da rolha natural, que é triturado, granulado e comprimido já em tubos, com a utilização de cola, para serem então cortados.

Rolha de espumante

É feita de duas partes, em forma de cogumelo. A parte de cima, a cabeça do cogumelo, é propositalmente feita de aglomerado bastante rígido, sem elasticidade, para que se possa segurar e sacar a rolha com as mãos ou um alicate apropriado. A parte de baixo, que fica dentro do gargalo da garrafa, é de rolha maciça e elástica, para vedar a garrafa e proteger o liquido, e é composta por dois discos que são colados e unidos à parte de cima.

  • VEDANTES ALTERNATIVOS MAIS COMUNS:

Rolha sintética

Chegaram ao mercado no início dos anos 1990. São mais baratas, permitem que o vinho seja guardado de pé, podem ser coloridas e, o principal, não transmitem o TCA. Como desvantagens, estão o lado estético (para os tradicionalistas) e o fato de sua durabilidade não ser comprovada. Normalmente usa-se este tipo em fermentados de menor preço e com uma expectativa de vida de menos de cinco anos. Cerca de 20% das garrafas de vinho é vedada com rolhas sintéticas.

Tampa de Rosca ou “screwcap”

Este tipo de vedante é usado na Austrália desde os anos 1970 e 80% dos vinhos da Nova Zelândia também o utilizam, e há tempos é usado com sucesso em vários tipos de bebida (cerveja, sucos, água mineral, etc.). Trata-se de uma tampa metálica de rosca coberta internamente por um plástico inerte.

Apesar de não ser hermeticamente lacrada, os produtores asseguram que elas são mais eficientes que as rolhas convencionais, contribuindo para a preservação dos aromas e sabores do vinho; são mais baratas e dispensam o uso de saca rolhas; permitindo o armazenamento da garrafa de pé; são recicláveis; livres de TCA; e funcionam perfeitamente para fermentados jovens.

Sua longevidade, contudo, não está comprovada para uso em produtos de guarda. Atualmente cerca de 15% de todas as garrafas comercializadas no mundo possuem tampa de rosca.

Rolha de vidro

Poucos são os vinhos que usam este, que é um dos lacres mais charmosos e eficientes. Ele veda completamente o vinho, reduzindo a zero o risco de oxidação e preservando com eficiência os aromas naturais do vinho. Porém, deve ser colocada manualmente, o que aumenta o preço final dos vinhos.

Por Alê Mendonça, sommelier profissional e diretora de evento ABS-DF

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