A Associação Brasileira de Sommeliers do DF (ABS-DF) fez história, ontem (31/07), na I Feira da Uva e do Vinho de Brasília, ao realizar a inédita degustação no Brasil de vinhos do Cerrado de Altitude com 12 rótulos de sete produtores diferentes e com seis variedades distintas. Participaram desse momento histórico jornalitas, produtores de vinho, sommeliers, dirigentes da ABS-DF e pesquisadores.
A maior parte dos vinhos degustados foram doados, pois muitos deles ainda estão sendo cuidadosamente estudados pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) – laboratório de Ipameri-GO – e outros já não mais existem para serem comercializados, tendo em vista a produção ainda escassa. Essa primeira degustação dos Vinhos do Cerrado de Altitude também não contou com vinhos do Distrito Federal, pois a produção local de vinhos finos em Brasília ainda não está pronta. A expectativa dos organizadores do evento é que no próximo ano os vinhos brasilienses venham completar a lacuna dos vinhos do Cerrado de Altitude e integrem também a lista daqueles que serão apreciados na segunda edição do evento.
O professor da UEG Ipameri-GO Roberto José de Freitas, engenheiro agrônomo e especialista em Viticultura e Fruticultura e doutor em solos e águas, abrilhantou ainda mais a degustação histórica ao explicar com detalhes o trabalho que vem desenvolvendo com a equipe da UEG Ipameri-GO em prol dos vinhos do cerrado. Os produtores Lorena Ferraz e Sérgio Resende, que fazem o Lorangi Syrah e o Girassol Syrah, respectivamente, também puderam não apenas participar da análise dos vinhos, mas também repassar a experiência de se produzir vinhos ao redor do Distrito Federal.
Degustação
Ao conduzir a degustação, o presidente da ABS-DF, Sérgio Pires, frisou que ainda é muito cedo para se falar sobre tipicidade dos vinhos do cerrado de altitude. “No entanto, me atrevo a dizer que pelas amostras que degustamos hoje, as uvas Syrah, Tempranilo e Touriga Nacional têm grande potencial para nos brindar com vinhos de qualidade. Essas duas últimas, inclusive, muito indicadas para a produção de vinhos à base de uvas sobremaduras”, ressaltou.
A vice-presidente da Associação Claudia Oliveira chamou a atenção para a alta graduação alcoólica dos vinhos degustados – que muitas vezes ultrapassaram os 15% – mas destacou a qualidade da vinficação de muitos desses vinhos. “Apesar do teor do álcool bem elevado, havia um bom equilíbrio entre os componentes dos vinhos apresentados, demonstrando a vinificação criteriosa”, concluiu.
Poda de inverno – Como acontece
Para que vinhos finos de qualidade sejam produzidos aqui no cerrado é preciso utilizar a técnica da dupla poda, ou da poda invertida, que interfere no ciclo da videira fazendo com que a colheita das uvas ocorra no inverno e não no verão, como é de praxe. Isso porque o inverno nessa área do Brasil tem condições climáticas muito favoráveis à colheita das uvas com maior concentração de álcool e açúcar. Os dias recebem grande incidência de sol e à noite a temperatura baixa. A amplitude térmica associada ao solo mais seco forjam as características fisiológicas adequadas. Embora o conhecimento e a prática de alteração da poda para retardar a época da colheita não seja uma novidade na vitivinicultura, a técnica da dupla poda nasceu, foi introduzida e tem prosperado no Brasil graças a um ator fundamental: um grupo de pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Confira os vinhos degustados – Cerrado de Altitude:
- Muralha – Serra das Galés – Castelão 2018
- Muralha – Serra das Galés – Syrah/Touriga Nacional 2018
- Lorangi – Syrah 2020
- Pireneus Terroir – Serra dos Pireneus – Tempranillo 2019
- Pireneus – Edição Especial Dupla Poda – Serra dos Pireneus
- Pireneus Terroir – Serra dos Pireneus – Barbera – 2018
- Terroir Girassol – Serra dos Pireneus – Syrah 2018
- Amostra Terroir Girassol – Cocalzinho de Goiás – Syrah 2020
- Amostra Salto do Corumbá de Goiás – Salto do Corumbá – Syrah 2020
- Amostra Casa Moura – Serra da Jiboia – Touriga Nacional 2020
- Amostra Casa Moura – Serra da Jiboia – Syrah 2020
- Urutau
Ao encerrar o evento os organizadores realizaram um brinde com o espumante Dom – feito pela vinícola Courmanyer especialmente para homenagear Brasília e seus idealizadores. O espumante foi doado pela Más Vino (306 Sul). Também doaram vinhos para que o evento acontecesse: Lorangi vinhos, Doc Vinhos (107 norte) e a UEG-Ipameri.