Uma nova Geografia das denominações de origem?
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“Produtores da Borgonha compram terras perto de Coventry e estão produzindo vinhos da mesma qualidade que os crus de Gevrey-Chambertin”
Verdade ou mentira ? Resposta: possível verdade só que isto pode acontecer lá por 2050.
Pelas previsões dos climatonomistas (especialistas em simulações do clima do passado e do futuro) não demorará o dia que tenha que ser feita uma profunda revolução nos mapas das Denominações de Origem (DO) da Europa por conta da mudança climática.
São cada vez maiores, na Europa, as preocupações com os efeitos da mudança climática na produção agrícola do continente. As previsões mais otimistas do aquecimento global estabelecem que a Terra ficará entre 1,8 e 2,5ºC mais quente, na média, até meados do século XXI. Ou seja, a temperatura média global pode passar dos 15ºC de hoje até uns possíveis 17,5ºC. A mudança climática já está sendo notada na Europa ocidental. São cada vez mais freqüentes os verões com temperaturas mais extremas e os invernos são cada vez mais chuvosos. Os efeitos das temperaturas extremas sobre a saúde pública já cobraram numerosas vítimas entre os idosos na França no verão de 2003. Foram contabilizadas 14.802 mortes naquele pais. Os impactos na agricultura em geral, e particularmente na vitivinicultura, são e serão muito importantes. Já estão acontecendo alterações aromáticas nos vinhos brancos das últimas safras no Norte da Itália, Suíça e Alemanha. Há estudos feitos na França que mostram que o calor excessivo de 2003 deu um “milésime”, no sul da França, completamente atípico com produção de vinhos diferentes dos esperados para cada terroir. Teve alguns efeitos extremos como perda de colheita e até morte de plantas.
O jornal Le Monde de 27/julho/2005 publicou que reapareceu em 2000 uma praga de gafanhotos no Sul da França. Estas pragas são mais comuns em lugares desérticos. Todos estes são indícios de que o clima está mesmo mudando. Os efeitos negativos serão mais notáveis no sul da Europa que ficará mais seca e exposta a calores extremos. A irrigação pode se tornar inviável em muitos lugares perto do Mediterrâneo.
Há estimativas de que o limite superior de latitude onde pode se plantar uva, está se deslocando desde os anos 60, para o Norte com uma velocidade de 10 a 30 km por década.
Os amantes do vinho fiquem felizes porque nem tudo será negativo. Este aquecimento vai melhorar a qualidade das uvas no Champagne, no vale do Loire e na Borgonha, mas vai afetar negativamente a viticultura no Sul da Espanha, Portugal e Itália. Nos próximos 50 anos Alemanha vai poder plantar Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. Então é verdade que a Inglaterra, a Bélgica e a Holanda poderão ter vinhedos de alta qualidade!
O aquecimento global está acontecendo e notado no Hemisfério Norte e muito menos no Sul. Pode ser uma oscilação natural temporária ou pode ser que haja algum efeito da atividade humana somada a natural. Ainda há muita polêmica cientifica a respeito embora a imprensa já tomou partido e assume que a causa é humana. Este tema virou quase um tema religioso. Este gás, o CO2, sendo mais abundante também vai afetar a produção de uvas. No curto prazo parece que vai ser benéfico pelo aumento da eficiência no uso da água das plantas e pelo estímulo da fotossíntese. As vides mais ao Sul poderão, portanto, amenizar os efeitos do maior calor e a maior falta de água. Ao longo prazo os efeitos ambientais combinados das mudanças climáticas são de difícil previsão. Os cientistas ainda não sabem bem o que pode acontecer com plantas de vida longa como as videiras.
Por outro lado há dúvidas sobre o que pode acontecer com a radiação ultravioleta. Se ela vai aumentar ou não na Europa. Os efeitos de um aumento nas radiações UV-B pode ser importantes para as videiras. Por um lado favoreceriam a formação de substâncias corantes (flavonoides e antocianos), mas podem fazer diminuir a fotossíntese e aumentar a resistência das plantas às doenças de fungos. Todos estes efeitos estão sendo estudados em laboratórios de ambiente controlado e começa a haver uma verdadeira enxurrada de artigos científicos tentando decifrar os efeitos possíveis de uma mudança climática duradoura sobre a viticultura européia. Não há nada conclusivo ainda.
A preocupação maior e começar a entender os efeitos positivos e negativos sobre a agricultura européia da mudança climática e assim desenvolver estratégias de sobrevivência, sobretudo da milenar cultura vitivinícola européia. Com certeza outros cultivos também serão afetados. Também haverá necessidade de proteger as terras contra o aumento da erosão que advirá com o aumento da chuva invernal. Portanto terão que ser mudados os métodos agrícolas em boa parte da Europa para se adaptar à mudança e continuar a produzir produtos de qualidade.
Como nada é eterno, muito menos o clima da Terra, os nossos netos poderão beber grandes crus ingleses. Bem que gostaria viver mais uns 100 anos para ver isto
AMANHÃ, UM NOVO MAPA DAS DENOMINAÇÕES DE ORIGEM?
Fonte: INRA. Adaptado e traduzido do Francês
Fonte: Radio France
Por Juan Verdesio, Engenheiro Floresta e diretor de cursos da ABS-DF.