Por Marcos Botton – Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho
A expressão “em se plantando tudo dá”, atribuída a Pero Vaz de Caminha por ocasião da chegada dos primeiros portugueses no Brasil, tem um forte significado até hoje em nossa (agri)cultura. É verdade que os grandes ciclos de produção, com destaque à cana de açúcar, ao café, ao cacau, à borracha e mais recentemente a soja marcaram a história brasileira. No entanto, uma fruta, inexistente no país à época do descobrimento e colonização, e que é matéria prima para processamento e elaboração de nobres produtos, foi introduzida em território nacional e conquista cada vez mais os brasileiros.
A implantação de vinhedos destinados à elaboração de vinhos iniciou no Brasil de forma modesta, principalmente na região Sul do país, utilizando cultivares de uvas de origem americana (Isabel, Bordô, etc), devido à resistência destes genótipos às principais doenças que afetam a cultura. Até hoje os vinhos elaborados com essas uvas têm destaque no mercado, apreciados pelos consumidores por trazerem memórias de infância, associado ao tradicional “gosto da uva” mencionado por muitos. No entanto, com o passar dos anos, o leque de cultivares de uva disponíveis para cultivo foi ampliado e novos produtos têm sido elaborados, garantindo aos vinhos made in Brasil um espaço crescente e de destaque.
Nessa evolução do produto nacional, diversas etapas foram necessárias para garantir a exploração dos diferentes terroirs, termo sem tradução para o português que remete à relação íntima entre o solo e o micro-clima particular de determinada região, que permite o cultivo de uma variedade de uva, a qual expressa sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho. No Brasil, isso se reflete no desenvolvimento de três perfis produtivos característicos: uma viticultura tradicional, localizada principalmente na região Sul do país, outra tropical (quem diria que o sertão nordestino produziria vinhos e espumantes de qualidade) e uma terceira chamada de inverno, localizada na região central do país e que utiliza a técnica da dupla poda, permitindo a colheita de frutos em períodos secos, resultando em produtos de altíssima qualidade.
Com o uso profissional de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e Instituições de ensino, pesquisa, extensão rural e transferência de tecnologia parceiras, incluindo desde porta enxertos adaptados às condições de clima e solo do Brasil, novos sistemas de condução, técnicas mais amigáveis para o manejo de insetos-praga e doenças, certificação da produção, até a experiência da organização em Indicações Geográficas (Indicações de procedência e Denominações de origem), a viticultura brasileira tem produzido e oferecido produtos diferenciados em todas as regiões vitivinícolas. Associado ao desenvolvimento da viticultura, o enoturismo completa a cadeia produtiva, transformando locais antes anônimos em verdadeiros cenários de filmes hollywoodianos. Com uma arquitetura única e característica, os empreendimentos vinícolas agregam à elaboração de vinhos e derivados, hotéis, restaurantes e parques temáticos que configuram um palco de deleite para os visitantes desfrutarem de produtos e experiências únicos. Valorizando essa realidade, foi estabelecido como o dia oficial do vinho brasileiro o primeiro domingo do mês de junho.
Então, aproveite esse momento para conhecer uma vinícola próxima – ou distante – à sua região, apreciar os produtos elaborados nos diferentes terroirs brasileiros e, ao visitar os roteiros, além de degustar os vinhos e espumantes, conheça a história, a cultura e a motivação dos profissionais do mundo do vinho envolvidos na produção e elaboração desse nobre produto nacional.